Figura 3: À esquerda, projeto da casa Butantã e a direita projeto da casa Mariante.
Fonte: Redesenhos de Débora Saldanha de Avila.
Quanto ao programa, em ambos os casos trata-se de residência unifamiliar, com um amplo
espaço de convívio onde acontecem especialmente o estar e as refeições. O modo como este
ambiente se relaciona com o exterior na casa em Barueri demonstra não haver constrangimento
em expor o cotiano da família a quem não faz parte dele. A permeabilidade visual é marcante,
permitindo tanto que se contemple a paisagem quase integralmente a partir do interior, quanto se
visualize boa parte da residência por quem transita em seus limites. De outra maneira, a proposta
de Mendes da Rocha, possibilita uma ampla apreensão do exterior por quem se encontra dentro
| 7
da casa, porém, mantém a privacidade dos usuários, através do modo como são solucionados os
planos das fachadas e a projeção da cobertura. A introversão proposital da casa Butantã visa
preservar o convívio familiar. As materialidades internas das residências amplificam este
posicionamento, pois o branco interior da residência em Barueri aumenta a transparência da casa,
já o concreto que possui tonalidade escura propicia um espelhamento maior das esquadrias,
principalmente durante o período diurno.
Quanto à forma como se resolvem os dormitórios, no projeto de Mendes da Rocha a solução é
peculiar já que difere completamente do padrão das residências tradicionais burguesas presentes
nos arredores. Os cinco quartos têm acesso direto às áreas de estar, sem circulações
intermediárias, e não dispõem de aberturas nas faces laterais da casa, sendo estas zenitais. Os
banhos conformam espaços contíguos aos dormitórios, com caráter de suítes. Contrariando as
tendências atuais de banheiros exclusivos, a solução adotada na casa Mariante prevê três
cômodos voltados a uma circulação de distribuição destinada ao acesso de dormitórios e banhos.
Porém, com a possibilidade de mantê-los mais reservados, através de portas deslizantes que
quando fechadas configuram situação de exclusividade.
A cozinha na casa Butantã encontra-se na periferia da planta, ainda assim podendo ser acessada
diretamente a partir dos espaços de estar/refeições. Já na proposta dos anos 2000, percebe-se a
aproximação da cozinha ao cotidiano da família. O cômodo fica em local privilegiado da casa, em
seu núcleo central, circundado pelos espaços de convívio.
A circulação vertical, no caso da Mariante, é explorada através de sua posição central em planta e
da permeabilidade visual possibilitada pelo uso do vidro na vedação dos cômodos que a
envolvem. Já na solução adotada por Mendes da Rocha, a circulação vertical é periférica, próxima
aos espaços de apoio, como a cozinha. Em ambos os casos a relação entre o veículo e o acesso
à residência ocorre de modo similar e a escada apresenta uma intenção plástica evidente.