Por outro lado, distante das questões ideológicas presentes no cenário nacional durante a
construção de Brasília, o projeto da casa Mariante depara-se com aspectos contemporâneos
recorrentes em se tratando do programa habitacional. A preocupação com a segurança faz com
que a população – especialmente a de classe média e alta, num primeiro momento – passe a
optar por residir em condomínios fechados.
Estas questões e outras tantas sem dúvida permearam as decisões projetuais a que se
relacionam. No entanto, o artigo pretende abordar principalmente as soluções de projeto
propriamente ditas, com ênfase nos aspectos técnico-construtivos e formais, concernentes ao
programa e ao espaço da habitação. Assim, o projeto apresenta-se como o meio de investigação
das proposições. Como ressalva, assinala-se que a casa Butantã será tratada no singular, já que
se analisará uma unidade: a solução projetual referente à casa do arquiteto, localizada no lote de
esquina.
Situada em um lote urbano, plano, de 37x23 metros e de esquina, a meio quadrante, com a
testada nordeste voltada para a Rua Eng. João de Ulhoa Cintra e a noroeste com a Rua Sant
Getz a residência do Butantã está implantada na região mais centralizada do lote. O programa foi
desenvolvido em dois pavimentos, sendo que no térreo localizam-se os espaços de apoio, abrigo
para os carros e piscina, enquanto que os sociais e íntimos foram contemplados no segundo
pavimento. A relação da obra com o entorno ocorre de modo aberto, ou seja, há uma continuidade
espacial e visual desde o interior até o espaço público, no entanto, o respeito à topografia original
estabelece um limite entre o público e privado, conforme relata o arquiteto Paulo Mendes da
Rocha, “cortei o território da colina só por baixo da casa, criando um patiozinho estrategicamente
protegido de modo que não aparecesse como uma ofensa àquela colina e ao traçado da rua
existente3
.” Tal delimitação restringe parcialmente as visuais da área de apoio, pois todo este
setor está protegido por um talude de aproximadamente 1,50 metros em relação ao nível da
calçada.
Por outro lado, a residência Mariante insere-se em lote de 39x20 metros junto a um contexto
urbano especial, pois o terreno encontra-se em condomínio fechado e usufrui de outra condição
urbana, logo as transições que ali ocorrem são entre o espaço semi-público e o espaço privado.
Tanto a condição de meio de quadra, quanto a topografia em aclive diferem de modo significativo
da condição da residência no Butantã. A orientação solar é outro condicionante importante, com
frente e vista para sudoeste o terreno possui um atrativo especial. Volumetricamente em dois
pavimentos a casa se distribui com sua área de serviço ao rés do chão, toda a área de convívio
está contida no segundo pavimento e sua cobertura abriga espelho d’água e terraço. A condição
de relação da área de apoio com a via de acesso é limitada pela presença de um talude que
guarda reminicências do terreno natural, com aproximadamente 1,10 metros acima da cota da
calçada e 1,40 metros acima do piso, todo o restante do terreno é de acesso extritamente privado.
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Deste modo, percebe-se que, embora os terrenos apresentem dimensões aproximadas, suas
condições urbanas, topográficas e orientação solar diferem completamente. No entanto, talvez a
maior diferença esteja no modo de conexão, ou de segregação das residências com as vias
públicas, ou mesmo semi-públicas. No caso da Butantã, o talude ainda permite alguma
visualização da rua para o interior, já o acumulo do aclive natural, mais a remodelação, proposta
na casa Mariante, restringe totalmente a percepção do pavimento de apoio dando a impressão de
que a residência sobrevoa o solo, excetuando os pontos de acesso da garagem. Em qualquer dos
casos, a guarda de veículos encontra-se no pavimento inferior. Ainda no térreo, estão outros
compartimentos de apoio como banheiros de serviço, dormitórios para funcionários e áreas de
armazenamento.